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Não somos racistas? Eu tenho vergonha alheia da classe média racista e da polícia que compactua com ela, por Maria Frô

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Morro de vergonha alheia quando vejo este show de horror, preconceito e discriminação e mais quando tudo, apesar de registrado, é entendido pela polícia como algo que não é demonstração de racismo.

O que mais esta médica sem noção e descontrolada deveria fazer para o delegado entender que suas ações foram desrespeitosas, injuriosas, preconceituosas e discriminatórias?

O que mais os leitores deste blog, que afirmam que não existe racismo no Brasil, que acusam os negros (ao lutarem contra este tipo de situação vivida cotidianamente como a que viveu este funcionário do check-in da Gol do aeroporto de Aracaju) de ‘racializar o Brasil’, de quererem ‘acabar com a belíssima democracia racial que temos’, de desejarem criar ‘ódio racial no Brasil’, precisam ver para se convencerem que vivemos em um país onde o racismo impera, humilha, exclui e mata?

A classe média conservadora representada por esta médica preconceituosa e descontrolada é prova cabal de que ainda temos muito o que avançar em termos de Justiça para criminalizar os racistas e estender as ações que permitem tornar a sociedade brasileira menos racializada.

O que mais é preciso ser visto e dito para que os opositores às cotas e às ações afirmativas entendam que a condição socioracial desta médica descontrolada e preconceituosa faz com que ela pense que tem mais direitos que os demais mortais no planeta? Ela chega 15 minutos antes da partida de um vôo internacional e acha que os funcionários da companhia e do aeroporto estão à disposição dela! A condição privilegiada de branquitude torna pessoas como esta médica crianças mimadas que ao ser contrariadas acham que têm o direito de agir como ela agiu.

Na mente racista e deturpada desta médica descontrolada sua profissão e sua branquitude lhe dão poder de embarcar mesmo que seu atraso tenha inviabilizado seu embarque e em sua mente deturpada pelo racismo o raciocínio que impera é o de: “como um ‘nego’ qualquer, balconista de um check-in ousa impedi-la? Quem é esse ‘morto de fome’ diante dela?” A quem, inclusive, ela considera que tem o direito de ameaçar: “sou médica e se você seu ‘cachorro’, seu ‘negô’, seu ‘morto de fome’ precisar de mim, vai morrer, não vou socorrê-lo”.

E com todo este show de barbárie verbal e gestual registrado, a polícia sequer faz o boletim de ocorrência! E não fez porque as partes em questão estão em posição de desigualdade: era uma médica branca de classe média, passageira de um vôo internacional, contra um balconista negro do check-in de uma companhia aérea, simples assim.

A desigualdade social no Brasil não se separa da desigualdade racial, só não as enxerga quem não tem olhos de ver.


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