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MUITO MAIS QUE ONZE NEGRAS

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Um quilombo encravado entre engenhos de açúcar, bem no meio de um complexo industrial, e a pouco mais de uma hora de distância da capital pernambucana. A comunidade Onze Negras, no município do Cabo de Santo Agostinho, Região Metropolitana do Recife, tinha tudo para se transformar numa área urbana. Seus membros, porém, preservam muitas tradições dos seus ancestrais, além de resgatarem manifestações artísticas e culturais do passado.

O respeito aos antepassados também levou a localidade a conquistar a posse definitiva das terras onde vivem seus moradores. Isso vai garantir maior qualidade de vida e de oportunidades às próximas gerações de quilombolas. A história de resistência da população de Onze Negras é contada por pessoas como Maria José de Fátima da Silva, 43 anos. Liderança da localidade, ela é, como grande parte dos moradores, descendente direta dos primeiros quilombolas que formaram a comunidade, há mais de cem anos.

“Minha família foi perseguida, mesmo depois da escravidão, por causa das terras. Meus avós foram expulsos de onde moravam e acabaram chegando aqui. Mesmo assim, eles não desistiram e formaram a comunidade”, explica.

Segundo ela, o nome Onze Negras surgiu durante uma mobilização dos moradoresreivindicando a eletrificação no local, em 1990. “Nós começamos a brigar pelo direito à luz elétrica, e surgiu o nome quando nós estávamos criando uma associação. Na época, eram onze mulheres negras participando da mobilização”, relembra Fátima.

Nesse período, a liderança ainda não sabia que sua comunidade era um quilombo. “Durante o período de organização da comunidade, descobrimos que nossos antepassados formaram um quilombo. Isso deu ainda mais força a nossa luta”, revela.

Sem problemas com a regularização da terra, os quilombolas de Onze Negras buscaram ajuda governamental para solucionar um outro problema: a falta de moradia digna. A comunidade, com cerca de 400 famílias, conseguiu através de parceria com os governos municipal e estadual, a construção de 300 casas, para atender os quilombolas.

Quem relata como era a vida antes do autoreconhecimento da comunidade é Maria José da Conceição, 78 anos. Segundo ela, os moradores sempre viveram da agricultura e as moradias não eram dignas. “No meu tempo de criança, as casas eram de taipa. Hoje, a gente mora num lugar mais confortável”, diz. Dona Maria percebeu mudanças a partir do auto-reconhecimento da comunidade como quilombo. “As pessoas daqui são mais respeitadas hoje porque conhecem a sua história”, conta ela.

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