De forma absolutamente discreta, Andrade conquistou seu 6º título de campeão brasileiro. Ele foi campeão 4 vezes com o Flamengo (1980, 1982, 1983 e 1987) e 1 vez pelo Vasco em 1989. Todos como jogador. Agora, Andrade torna-se o 1º treinador assumidamente negro (recuso-me a aceitar que Luxemburgo seja branco, ou qualquer outra coisa que seja...) a se sagrar campeão brasileiro. O mais importante, no fato, é a postura do técnico, muito serena, como sempre: Andrade já tinha ressaltado, em entrevistas, a dificuldade de um negro ocupar um cargo de treinador numa das principais equipes brasileiras. Vivemos num país que demorou muito a admitir os negros enquanto jogadores - até o Pelé sofreu com a discriminação, o que não aceitou ainda nos espaços da comissão técnica, salvo exceção de massagistas e roupeiros....
Em nosso país, a não muito tempo atrás, entendia-se, de forma equivocada (como a própria Ciência provou...), que o branco era a forma mais evoluída do homem, enquanto o negro, a mais atrasada, inclusive estando próximo ao macaco numa excala evolutiva. Um absurdo... Historicamente, como forma de justificar a escravidão, pregava-se que o negro possuía aptidão física mais desenvolvida que o branco, o que o permitia trabalhar na "lida" com maior desempenho e legitimava sua posição de escravo. O branco, por sua vez, possuiria dotes intelectuais mais avançados em relação ao negro. Esta visão, preconceituosa, ainda possui raízes fortes em nossa cultura, mesmo nos dias atuais, em pleno séc. XXI. Prova disto é a dificuldade de aceitação dos negros em papéis de direção, onde o trabalho possui um viés mais intelectualisado, como no caso dos treinadores. Ano passado o Boston Celtics foi campeão da NBA com um treinador negro: Doc Rivers. Fato raro também. Este ano, foi Andrade que igualou o feito aqui no Brasil.
Interessante notar a dificuldade que a mídia têm de absorver o fato com naturalidade. A Rede Globo e seu sistema (SporTV's, etc.), como baluarte do Brasil onde "não somos racistas", fica sempre em situação desconfortável num momento destes. Para as grandes redes de comunicação, Andrade foi vitorioso pela sua humildade. Nunca por qualquer característica que demonstre inteligência. Incrível acreditarmos que um técnico de futebol possa ganhar um título tão disputado como o da Série A do brasileiro, dirigindo uma equipe do futebol carioca financeiramente falido, recuperando velhos medalhões, mesclados com ilustres desconhecidos, com apenas humildade, sem nenhum mérito tático ou estratégico... Acredite quem quiser...
Parabéns ao Andrade e que ele possa estar abrindo as portas para outros.
Adriano Bueno
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