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Carta de Repúdio à Mídia Racista

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010


Carta de Repúdio à Mídia Racista
Há uma nítida ascensão da população mais pobre no Brasil. Aqui, esta população é a negra. Estes avanços têm sofrido ações diretas dos setores conservadores. Esta elite tem demonstrado que não quer dividir os recursos, o poder ou os direitos básicos humanos.
Algumas instâncias foram montadas pelo governo e pela sociedade civil para elaborar políticas afirmativas. Isto, em vários níveis, chegando até à construção de conselhos municipais da população negra. Há uma agenda propositiva acontecendo. Passeatas dos povos de Candomblé, Campanhas contra o genocídio que assola a juventude negra, Criação de mais delegacias de combate a violência sofridas pelas mulheres, Política Nacional de Titulação das comunidades Quilombolas, PROUNI e Cotas raciais incluindo uma parcela significativa de jovens. Contudo, falta pensarmos melhor uma educação anti-racista e uma mídia enegrecida e étnica.A televisão brasileira é branca.
É Incomum acharmos jornalistas, apresentadores e âncoras negros. E não adianta citar os raros exemplos para tentar negar o óbvio, têm pouquíssimos negros na TV. A constatação é simples, o padrão estabelecido pela Mídia Brasileira é racista, machista, homofóbico e fascista.
Alguns casos no final do ano foram emblemáticos. Ao primeiro indício de relação com o Cadomblé, apressaram-se para declarar que o garoto que teve seu corpo enxertado por agulhas tinha passado por um ritual de “magia negra”. Mas se até uma Secretaria com status de Ministério foi criada para pensar políticas para população negra o que falta? Bem, este é um debate que está colocado e não podemos deixar de fazê-lo.
Mesmo com alguns avanços, somos forçados a concordar com Boris Casoy em uma coisa, os negros ainda são os últimos na escala do trabalho. São, porque a elite da sociedade da qual pertence, continua construindo ferramentas de manutenção da sua hegemonia no Brasil. Quanto mais escura é a cor da sua pele, mais racismo e mais subjugada será esta pessoa. Nossa condição é a de povo mutilado, não podemos nos acomodar ou diminuir o ritmo das lutas.
Em especial, podemos pensar no papel que pode cumprir a mídia televisiva. Ela pode funcionar como uma das estratégias de mudança social, desde que propicie o desenvolvimento e a visibilidade dos invisíveis no que é exclusivamente comercial; que realize novas maneiras de expressão cidadã; e que promova a mobilização social, como mecanismos de controle social e reivindicação de melhorias. Entretanto, o que observamos é uma televisão mergulhada num contexto marcado pelo âmbito privado e um cenário globalizado no aspecto econômico e tecnológico que, ao mesmo tempo, privilegia os interesses de grupos políticos conservadores.
Uma luta fundamental para nos somarmos é da TV Pública. É fundamental intensificar o ritmo de estruturação da TV Pública, consolidando a partir dela um sistema de comunicação ágil, democrático e plural. Essa é uma necessidade veemente da democracia brasileira. A TV Pública é uma aspiração histórica de segmentos da sociedade brasileira preocupados com a pluralidade e a democratização do acesso à informação. Mesmo tendo certeza de que a TV Pública não acabaria com o racismo, usar a mídia para enegrecer os ideais e construir alternativa a tanto preconceito que se ensina é imprescindível.
Outra coisa que a mídia racista não sabe é do poder bélico que são essas vassouras do povo negro paradas por apenas uma semana. Talvez seja isso que a elite branca precise, ter o lixo produzido por eles mesmos armazenado dentro de suas casas. Com certeza, o cheiro que este lixo produzirá será menos nocivo do que os pensamentos dos conservadores. Só teremos uma sociedade e mídia mais igualitárias quando aqueles que estiverem nestes meios representarem nossa política.
Precisamos de jornalistas negros e negras para que a pauta se torne centralmente a implementação de políticas para a população Negra. Além disso, precisamos enegrecer o mundo do trabalho, para que mais negros e negras ocupem profissões do primeiro escalão, substituindo gradativamente figuras como Casoy.
Assinam esta carta
Cledisson - Diretor de Combate ao Racismo da UNE - União Nacional dos Estudantes

Fabiola Paulino - Diretora de Mulheres da UNE - União Nacional dos Estudantes

Herlom Miguel - Coletivo Nacional Enegrecer

Luiz Carlos Suica - Sindilimp-BA (Sindicato dos Trabalhadores em Limpeza Intermunicipal da Bahia)

Fetralimp-BA (Federação dos Trabalhadores em Limpeza do Estado da Bahia)

Gilmar Santiago - Vereador Negro da Cidade de Salvador

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