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Pela ampla unidade da América Latina

sábado, 2 de maio de 2009

Buenos Aires, capital da Argentina, já teve quase 30% de sua população formada por negros e afro-descendentes no ano de 1850. Na Venezuela esse índice era de 70%, e na Colômbia, somente em 1901, de 80%, sendo que no estado colombiano de Chocó concentravam-se 98% da população negra. Além disso, o Uruguai chegou, inclusive, a ter um partido formado majoritariamente por negros, o Partido Negro Autoctono. Nas Américas – portuguesa e espanhola – a presença africana deu-se pela exploração do trabalho compulsório por parte dos senhores de engenho, latifundiários e membros das classes mais abastadas. No entanto, houve vários episódios de resistência cultural, humana e histórica que aconteceram por meio das revoltas nos quilombos, cimarrones, pelenques e cumbes. Certos capítulos dessa trajetória apontam incontáveis vitórias sobre o explorador, como a derrota de Napoleão Bonaparte para o negro Toussaint L’Overture que levou o Haiti a sua independência ou o fato de Zumbi construir uma verdadeira República dos Palmares de feitio socialista, de base comunal, em pleno coração do Brasil-Colônia. Em todos esses episódios sombram coragem, determinação e correta direção política por parte dos filhos da diáspora.

Para dar continuidade a essa tradição de luta classista é que foi lançada - no dia 13 de abril de 2009, durante encontro de Etnoeducação – educação de negros e indígenas – realizado em Guayaquil no Equador, a Organização Latinoamericana de Entidades Negras-OLAEN. Esse fato concretiza o avanço dos laços de fraternidade, cooperação e unidade de ação política em prol de afro-latinoamericanos. As organizações negras têm o desafio de aumentar a ressonância da luta contra o neoliberalismo e continuar o apoio aos governos populares e progressistas na região; dentre os quais Lula, no Brasil; Evo Morales, na Bolívia; Hugo Chávez, na Venezuela; Rafael Correa, no Equador; Michele Bachelet, no Chile. Isso se torna necessário devido às efetivas políticas de promoção da igualdade racial que estão sendo gestadas. No Chile há a “Rota da Escravidão” – museu a céu aberto; no Panamá há um museu semelhante; no Brasil há o Prouni, Bolsa Família e Lei 11.645 destinada a incluir no currículo escolar a História Afroíndigena; na Bolívia foram criadas três universidades específicas das etnias Guarany, Quencha e Aimara; na Colômbia há o resgate do patrimônio cultural afrocolombiano. Precisamos destacar nessas experiências a Agenda Política das Mulheres Negras e o Projeto Afromérica XXI - que reúne atividades de combate à DST/AIDS, inclusão cidadã e geração de emprego - desenvolvidos por militantes do Equador. Em todas elas o sentimento de pertencimento étnico tem um forte componente de participação popular nas decisões dos governos e uma grande capacidade de articular com diversos setores, tanto da iniciativa privada, quanto da Igreja Católica e do Estado.

Essa rede foi criada para fortalecer as experiências etnoeducativas e intercâmbio entre as diversas experiências realizadas pelos países. Além disso, revitalizar os saberes ancestrais e os conhecimentos contemporâneos de forma a possibilitar a construção de múltiplas identidades étnicas no marco da intercultularidade e promover políticas públicas no âmbito da educação para que esta tenha conteúdos da cultura, história e realidade dos povos afrodescendentes - historicamente marginalizados.

Alexandre Braga é estudante de Filosofia pela PUC-MG, membro da Coordenação da UNEGRO - União de Negros Pela Igualdade e da Organização Latinoamericana de Entidades Negras.

1 comentários:

João Paulo disse...

É tanto patrocínio, ainda temos que pagar uma taxa.

Isso é lamentável!
$$$

 
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