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Racismo institucional

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Criado em 1967, o conceito de racismo institucional especifica a forma de racismo que se estabelece nas estruturas de organização da sociedade e nas instituições, traduzindo os interesses, ações e mecanismos de exclusão perpetrados pelos grupos racialmente Dominantes.
De acordo com um dos mais importantes documentos do Reino Unido sobre o tema, o Relatório Macpherso, o racismo institucional é: “A incapacidade coletiva de uma organização em prover um serviço apropriado ou profissional às pessoas devido à sua cor, cultura ou origem étnica. Ele pode ser visto ou detectado em processos, atitudes e comportamentos que contribuem para a discriminação através de preconceito não intencional, ignorância, desatenção e estereótipos racistas que prejudicam minorias étnicas.”
No Brasil, o racismo institucional manifesta-se não só do privilégio branco, mas de suas ações para controle, manutenção e expansão dessas prerrogativas via apropriação do Estado.
Estudos internacionais apontam ainda que o racismo institucional desindividualiza o campo de ação do racismo e desloca a discussão dos preconceitos e discriminações interpessoais, repondo-a no espectro da ideologia e da política, incluindo-a no contexto apropriado das relações sociais. Nesta perspectiva, esse conceito desmascara a impregnação da ideologia racista no sistema de saúde, rompendo com a tendência de desvinculação com processos de dominação (e resistência) presentes reconhecidamente no conjunto da sociedade.
Entre as dimensões do sistema de saúde afetadas pelo conceito de racismo institucional destacam-se: a) relações comunitárias – vinculadas a investimentos em diversos campos da ação local como, por exemplo, promoção de saúde e prevenção de doenças; relações públicas e acompanhamento; localização dos serviços; práticas/políticas de emprego; participação em órgãos deliberativos; desenvolvimento econômico; apoio político; b) profissionais de saúde – possibilita analisar o maior ou menor acesso dos grupos “minoritários” à formação profissional de saúde, especialmente naquelas de maior prestígio socioeconômico. Nesta análise, estão incluídos tanto os fatores anteriores à graduação (dificuldades de acesso e progresso ao longo do sistema educacional), como também as barreiras de acesso na graduação ou de progresso subseqüente na carreira; c) pesquisa – explicita a exclusão dos grupos racialmente inferiorizados das pesquisas biomédicas e sociocomportamentais; d) ideologia – rompe-se com a falácia da neutralidade científica (e do sistema de saúde em todos os seus componentes) e reconhece sua presença no desenvolvimento da ciência, como também nos antecedentes e na orientação política de seus membros, na prática da medicina e de outras profissões da saúde, e nas forças externas para a mudança.

Fonte: WERNECK J. Iniqüidades Raciais em Saúde e Políticas de Enfrentamento: As experiências de Canadá, Estados Unidos, África do Sul e Reino Unido (artigo de revisão bibliográfica). In: LOPES, F (org.). Saúde da População Negra no Brasil: contribuições para a promoção da eqüidade [Relatório Final – Convênio UNESCO Projeto 914BRA3002]. Brasília: FUNASA/MS, 2004.

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